Pesquisadores lançam portal de textos semanais com reflexões sobre o Bicentenário da Independência do país
Artigos são voltados para o público não especializado, professores e até mesmo estudantes do Ensino Médio
No ano em que são completados 200 anos da separação de Portugal de sua colônia na América do Sul, uma parceria da Associação Nacional de História (ANPUH), da Sociedade de Estudos do Oitocentos (SEO) e da revista Almanack (uma publicação da Universidade Federal de São Paulo — Unifesp), acaba de ser lançado o projeto do portal “Brasil: bicentenário das independências”, segundo seus idealizadores como forma de garantir que historiadores tenham voz no debate público que se fará a esse respeito, sobretudo em um período em que o Governo Federal associa toda e qualquer pauta nacional às demandas conservadoras, valendo-se de toda a sorte de negacionismos e falsificações históricas.
Dentro do portal, entre março e setembro, o leitor terá acesso por meio de um blog (Blog das Independências) a um texto (artigo) sobre a independência, escrito por uma especialista no tema e dedicado ao público em geral. Os conteúdos são breves — com duas páginas — escritos em linguagem simples, buscando oferecer a um público amplo uma reflexão sofisticada, contudo acessível a leitores pouco familiarizados com o debate acadêmico.
O texto de lançamento (8/3) foi “Existiu uma independência do Brasil?”, assinado pelo professor João Paulo G. Pimenta, da Universidade de São Paulo (USP). “Com essa ação, esperamos contribuir para qualificar o debate público sobre o tema da independência do Brasil”, explica o coordenador do projeto, André Machado, professor do Departamento de História da Unifesp, campus de Guarulhos (SP).
Segundo ele, o projeto nasceu após algumas conversas com a professora Andréa Slemian, também docente do Departamento de História da Unifesp. “Em resumo, ele visa destacar a nossa perspectiva que esta é uma história múltipla. Nosso interesse é resgatar também os projetos políticos para a independência que não foram vitoriosos, os protagonistas políticos que foram apagados porque não se encaixavam com a história nacionalista construída no século XIX, que visava consagrar uma independência supostamente pacífica, uma simples evolução da colônia em Estado independente. Ao mesmo tempo há a nossa preocupação com os usos políticos da memória de independência e a forma como isso é utilizado, muitas vezes, para justificar os processos de exclusão social no país”, justifica Machado.
O pesquisador também comentou sobre a escolha do tema do texto de estreia do blog: “Esse primeiro texto que lançamos, do professor João Paulo Pimenta, da USP, exemplifica bem o que queremos nesse projeto: um texto escrito por um dos maiores especialistas no tema em uma linguagem simples e partindo de uma pergunta que é historiográfica, mas que também está na boca das pessoas. Afinal, quem nunca esteve num bar e ouviu a conversa descambar para afirmações como a que o Brasil nunca foi independente de verdade, que deixou de ser colônia de Portugal para ser colônia da Inglaterra e coisas do gênero?”.
Machado revela que os textos são pensados para um público adulto, ainda que ele acredite que possam ser trabalhados também com alunos do Ensino Médio. No campo da Educação, no entanto, ele indica que o público-alvo são os professores. Sobre a interação com o público, o próprio blog do portal permite comentários dos leitores. “Esperamos receber mais intensamente o feedback dos leitores. E é muito importante que as pessoas se cadastrem para receberem alertas do lançamento de novos textos”, convida o pesquisador da Unifesp.